sábado, 31 de outubro de 2009

Di Cavalcanti

A MULHER EM NOSSA SOCIEDADE - textos

Ninguém ousa namorar as deusas do sexo
Arnaldo Jabor O Globo em 21/09/99

A política está tão repulsiva que vou falar de sexo. Outro dia, a Adriane Galisteu deu uma entrevista dizendo que os homens não querem namorar as mulheres que são símbolos sexuais.
É isto mesmo. Quem ousa namorar a Feiticeira ou a Tiazinha?
As mulheres não são mais para amar; nem para comer. São para "ver". Que nos prometem elas, com suas formas perfeitas por anabolizantes e silicones? Prometem-nos um prazer impossível, um orgasmo metafísico, para o qual os homens não estão preparados... As mulheres dançam frenéticas na TV, com bundas cada vez mais malhadas, com seios imensos, girando em cima de garrafas, enquanto os pênis-pectadores se sentem apavorados e murchos diante de tanta gostosura.
Os machos estão com medo das "mulheres-liquidificador". Essas fêmeas pós-industriais foram fabricadas pelo desejo dos homens ou, melhor, pelo desejo que eles gostariam de ter ou, melhor ainda, pelo poder fálico que as mulheres pensam que os homens possuem.
O modelo da mulher de hoje, que nossas filhas almejam ser, é a prostituta transcendental, a mulher-robô, a "valentina", a "barbarela", a máquina-de-prazer sem alma, turbinas de amor com um hiper-atômico tesão. Antigamente, a prostituta era dócil e te servia. O homem pagava para ela "não" existir. Hoje, a cortesã moderna "existe" demais. Diante delas, todos se arriscam a brochar, apesar de desejá-las como nunca. A brochura que advém diante destas deusas não é por moral ou culpa; é por impossibilidade técnica. Quem se atreve a cair nas engrenagens destes "liquidificadores"? Que parceiros estão sendo criados para estas pós-mulheres?
Não os há. Os "malhados", os "turbinados" geralmente são bofes-gay, filhos do mesmo narcisismo de mercado que as criou. Ou, então, reprodutores como o Szafir, para o Robô-Xuxa. A atual "revolução da vulgaridade", regada a pagode, parece "libertar" as mulheres. Ilusão à toa.
A "libertação da mulher" numa sociedade escravista como a nossa deu nisso: superobjetos se pensando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor e dinheiro. São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades. Mas, diante delas, o homem normal tem medo.
Elas são areia demais para qualquer caminhão. Por outro lado, o sistema que as criou enfraquece os homens que trabalham mais e ganham menos, têm medo de perder o emprego, vivem nervosos e fragilizados com seus pintinhos trêmulos, cadentes, a meia-bomba, ejaculando precocemente, puxando sacos, lambendo botas, engolindo sapos, sem o antigo charme jamesbondiano dos anos 60.
No sexo neoliberal, o homem brasileiro perdeu o machismo orgulhoso do tempo das mulheres-objeto artesanais. A mulher pós-industrial o assusta. Não há mais o grande "conquistador". Temos apenas alguns "fazendeiros de bundas" como o Huck, enquanto a maioria virou uma multidão de voyeurs, babando por deusas impossíveis.
Diz uma amiga: "Não tem mais homem na praça. Só tem casado, 'roubada' e veado".
O MESSIAS-VIAGRA Esta super-oferta de sexo rápido e maquinal está matando o mercado.A demanda diminui com o freguês inseguro, incapaz de consumir a mercadoria, ele se sentindo devorado pelo sanduíche que comprou. Vem aí uma recessão de corpos, com os preços caídos.
Ninguém confessa no Ocidente, mas os homens estão brochando em massa. Pesquisas nos EUA mostram que se transa cada vez menos no "turbo-capitalismo". Como amar entre celulares e Internets, com mulheres digitalizadas? Diante desta velocidade, o sexo se esvai. A verdadeira sensualidade é lenta. Precisa do sossego, da meia-luz, do abandono, do tempo vago. A volúpia precisa da calma. Daí, a chegada do "messias" dos paus: o Viagra.
Não é para velhinhos tristes. Mentira. O Viagra vem preencher o buraco que a globalização abriu, poluído por Aids e angústias de castração. Mais que um remédio, o Viagra está virando um amuleto; só de carregá-lo no bolso, o macho já se sente mais forte. O Viagra no Brasil virou o anabolizante dos pênis fracos, a contrapartida para as "mulheres-tchan". A rapaziada está tomando Viagra para festinhas de embalo, para ser uma superoctanagem, um carburador-extra dos homens tímidos, possibilitando trepadas robóticas, onde os corpos se entrechocam sem ninguém dentro. Ninguém está ali na cama, a não ser dois competidores aerodinâmicos, duas "coisas" sexuais. Só com ajuda de Ecstasy, Viagra, calmantes e coquetéis de chifre-de-rinoceronte é possível o encontro de corpos separados por "camisas-de-vênus", próteses e inibições.
Os casais, hoje, querem ser "coisas sexuais", eficientes, com uma liberdade física total que possa excluir um inconsciente cheio de problemas. Esta é a idéia: "Sou tão mais livre e feliz quanto mais usável!
Uso o meu corpo como se fosse uma prótese, um 'outro' que não sou eu, uma terceira-coisa na prateleira do supermercado". Nosso ideal é sermos desejados como um bom eletrodoméstico. Ninguém quer ser livre; queremos ser consumidos.Infelizmente, o mito da liberdade total mata o desejo. A fé na carne como "coisa" sem lei acaba em camas sem prazer. O mercado está banalizando a perversão, numa espécie de "fetichização" do fetiche. Me explico. O fetiche depende do segredo, do perigo, da escura experiência da transgressão à lei. Agora, o fetiche se "fetichizou" como mercadoria.
Assim como nos anos 60 tudo ganhava o emblema da "revolução", hoje tudo caminha para uma "naturalização" banal. Tudo pode; nada se consegue. O pecado faz muita falta. As hiper-gostosas não têm namorado. "Ô coitadas...”


Linguagem feminina: enigma a ser decifrado
Josenia Antunes Vieira

Criados diferentes, homens e mulheres desenvolvem uma espécie de dialeto próprio ao longo da vida. Em razão dessas diferenças, os choques em sua comunicação têm sido freqüentes. Ao falar, a mulher insinua; o homem fala diretamente.
Eles encaram a comunicação como um meio para chegar a um fim, que pode ser determinado com precisão, como a tomada de uma decisão, a obtenção de uma informação ou a resolução de um problema. Para elas, a linguagem é, sobretudo, um canal para criar laços afetivos.
Na maioria das vezes, as mulheres expressam seus sentimentos de forma indireta. O significado do que ela fala está nas entrelinhas, delineando veladamente o que pretende ou deseja que o outro faça. Quando diz “não”, quer dizer “sim” e vice-versa. Com isso, os homens vêem as mulheres como um enigma indecifrável.
Mas o universo da comunicação masculina também apresenta peculiaridades: usam comumente linguagem direta e interpretam as palavras literalmente. Para eles, a linguagem é, essencialmente, um instrumento de poder; usam-na para estabelecer domínio em determinado círculo social, garantindo, assim, a independência e a resolução de problemas.
Enquanto para eles o sentido é tomado ao pé da letra, a linguagem no universo feminino é um jogo de sedução. Ele não sabe jogar com essa linguagem. Se ela, ao passar por uma vitrine, diz: “Olha, que bolsa mais linda!”, espera, com esse simples comentário, que ele a presenteie com o objeto admirado.
As mulheres conseguem cuidar de mil coisas ao mesmo tempo e, enquanto os homens tendem a ver tudo em preto ou branco, as mulheres vêem as cores intermediárias. Elas percebem o cinza. São menos dogmáticas e mais conciliatórias. Os homens arriscam “tudo” ou “nada” com enorme facilidade; as mulheres procuram a opção mais segura.
Outra questão diferencial é a forma como cada um dos sexos encara um problema. Em uma briga de casal, homens discutem causa e efeito. Mulheres discutem sentimentos e emoções. E até na escrita está evidente a diferença entre os dois. Quando comparados os seus textos, elas preferem abordar sentimentos, enquanto eles tratam de coisas concretas.
Entretanto, as mudanças com relação ao lugar e ao papel das mulheres na sociedade minimizaram profundamente essas diferenças. À medida que o mundo se torna cada vez mais complexo, exigindo o processamento de centenas de variáveis ao mesmo tempo, o homem tenta decifrar as mensagens que estão ocultas no processo de comunicação, procurando compreender mais a mulher ao tornar-se companheiro de trabalho, colega de profissão ou amigo e confidente.
Por fim, as mulheres são hoje peça fundamental no mundo do trabalho e devem ser dignificadas. Mas é igualmente imprescindível enobrecer o papel do homem no mundo familiar e doméstico, que também é essencial nesses domínios.
Mulheres e homens mantiveram-se durante séculos tradicionalmente restritos a apenas um desses mundos. Mudar essas circunstâncias requer tempo, atenção especial aos grupos mais sensíveis e também uma nova postura social, mais aberta, mais equilibrada, em que tanto eles como elas se empenhem na busca do pleno entendimento.


Cyberperuas siliconadas

Na semana passada, eu tomava o baú de volta para casa quando espiei para a cadeira ao lado, onde uma mulher lia uma revista com a seguinte manchete: “Carla Perez estréia novo nariz”.
Houve um tempo em que se estreava um show, um filme, um livro, um disco ou uma peça de teatro. Mas, agora, em tempos de silicone, as Feiticeiras, Carlas Perez, Xuxas, Denielle Winnits e outras estreiam um nariz, um bunda, novas coxas ou novos seios. Muitas adolescentes estão entrando na onda. Segundo o colunista José Simão, da Folha de São Paulo, existem dondocas que realizaram tanta operação plástica que fazem xixi pelo sovaco.
A única diferença das cyborgs da ficção científica (seres dotados de inteligência e corpos perfeitos) com as cyberperuas siliconadas pós-modernas é que estas têm uma estampa perfeita, mas uma cabeça de Magda. Antes, a moda era a bunda; agora, são os seios. As musas da hora vêm equipadas com airbag. Claro que cada um tem o direito de fazer o que quiser do seu corpo. O que se discute são as conseqüências para a saúde e o efeito que esses modelos de beleza provocam na cabeça das pessoas. Do ponto de vista da saúde, em determinados casos, a aplicação de silicone pode provocar sintomas de rejeição do organismo: gripe, fadiga, mal-estar. Recentemente, a revista Capricho publicou reportagem sobre um modelo de 19 anos que foi parar no setor de emergência de um hospital apresentando infecção generalizada por rejeição à prótese. Ela sofreu nove cirurgias para reconstituir os seios. E, além da possibilidade de rejeição, o silicone dificulta o exame que detecta o câncer na mama.
Do ponto de vista estético, este modelo da perfeição é extremamente opressor; não é o modelo do prazer, do tesão, da afirmação. É um modelo de exclusão. Ele produz infelicidade, depreciação, frustração. Mas é claro que todo mundo pode ser feliz com a cara, os ossos, a raça, os seios e a bunda que Deus lhe deu. Com exceção de raros casos em que é necessária um intervenção corretiva, o problema da auto-estima não é de bisturi; é cultural. Vejam o que diz o Manuel Bandeira, um dos maiores poetas brasileiros modernos: “A primeira vez que vi Tereza / Achei que ela tinha pernas estúpidas / Achei também que a cara parecia uma perna / Quando vi Tereza de novo / Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo / (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) / Da terceira vez não vi mais nada/ Os céus se misturaram com a terra / E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas”. (Tereza, in Libertinagem).
E a nossa vida também não é assim? Só quem nega sua verdade se submete a reduzir a diferenças do corpo, da raça e do sangue a uma massa informe para ser cyberperua siliconada, moldada conforme o gosto do freguês. Não é a toa que Gilberto Gil canta a necessidade de se aperfeiçoar o imperfeito, desprezando a perfeição. Nós, os humanos, somos (antes de tudo) animais imperfeitos. Nada mais divino nos humanos do que assumir sua condição de mortais.

Severino Francisco – Jornalista. In, Radical nº 20- ano V- Julho/2004


Feromônios em transpiração masculina reduzem tensão em mulheres
da Folha Online

Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia descobriram que o suor masculino pode influenciar o humor das mulheres: ele ajudaria a reduzir o estresse, induziria o relaxamento e afetaria o ciclo menstrual.
"Há muito tempo sabemos que os feromônios femininos podem afetar o ciclo menstrual de outras mulheres", disse George Preti, um dos autores da pesquisa. "Esses estudos são os primeiros a documentar efeitos dos feromônios masculinos em mulheres."
Os pesquisadores coletaram amostras das axilas de homens, as quais foram mescladas e aplicadas abaixo do nariz de 18 mulheres, entre 25 e 45 anos de idade. Elas não sabiam o origem do teste_ acreditavam que se tratava se uma análise de álcool, perfume ou cera para pisos.
Após seis horas, as mulheres descreveram uma redução na tensão, enquanto análises de sangue demonstraram aumento no nível de um hormônio que normalmente surge antes da ovulação.
Segundo o co-autor Charles Wysocki, a pesquisa pode indicar uma "comunicação química" entre os sexos. "Em um ambiente mais sensual, a exposição a estes odores pode facilitar o surgimento de temperamento sexual ou sentimentos", afirmou.
Os pesquisadores acreditam que o estudo pode levar a novas terapias de fertilidade e tratamentos para tensão pré-menstrual, caso o agente ativo da transpiração masculina for isolado. "Se determinarmos como os feromônios influenciam o humor e a resposta endocrínica, podemos fabricar moléculas que manipulem os efeitos observados", disse Wysocki.
Com agências internacionais


Império da Bunda

As bundas estão no ar. Estamos vivendo em pleno império da bunda. As bundas abundam em todos os espaços. Houve um tempo em que a bunda era uma parte do corpo humano. Mas hoje a bunda se tornou uma pessoa, com carteira de identidade, CPF, conta bancária e tudo. Antigamente, no tempo das fábulas, os animais falavam. Entretanto, hoje são as bundas que falam, apresentam programas de televisão, viram atrizes de novelas, compõem letras de música, se transformam em babás eletrônicas. Inventaram até um gênero musical, a Axé Music, para servir de trilha sonora para a bunda.
Nada contra uma bela bunda. Uma bela bunda é uma invenção divina. O arquiteto Oscar Niemayer buscou inspiração para a leveza de sua arquitetura nas curvas barrocas da mulher brasileira. Na elegância, na delicadeza e graça da Bossa Nova sempre se insinuam os encantos de uma musa morena: “Olha que coisa mais linda/ mais cheia de graça/ é ela menina que vem e que passa/ no doce balanço, caminho do mar...” E Carlos Drummond de Andrade, o maior poeta brasileiro, também esculpiu um pequeno monumento, em forma de palavras, para exaltar a beleza da bunda feminina: “ A bunda, que engraçada? Está sempre sorrindo, nunca é trágica. (...) Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz/ na carícia de ser e balançar./ Esferas harmoniosas sobre o caos.”
Como se vê, a bunda pertence a uma linhagem muito nobre na cultura brasileira. Ela inspirou nossos melhores artistas. Mas não é possível dizer o mesmo sobre a cultura de bunda vigente no país. Ela não se contenta mais em ser motivo de inspiração e passou a roubar a cena. Hoje a bunda ocupa o papel principal, grava discos, manda repetir o refrão da música, comanda as massas, pensa.
É aí que mora o perigo. A encrenca começa quando as bundas abrem a boca e se metem a falar. Uma das musas da cultura de bunda afirmou que escola se escreve com “i”. E ao receber o telefonema de um telespectador de Santa Catarina, ela exultou: “Ah, que bom, mais um gaúcho!” A bunda cantada por Drummond era uma bunda lírica. A das cyber-musas é apenas uma bunda que se vende, enlatada na prateleira televisiva, com seu erotismo calculado pelo departamento de marketing. Não inspira nada a não ser relações onanistas.
O problema de uma cultura de bunda é que ela cria também toda uma geração de cabeça de bunda. Uma bunda não pode substituir a cabeça na função de pensar. A escritora americana Gertrude Stein escreveu um célebre verso para desmistificar a imagem da rosa, usada abusivamente pelos poetas românticos: “One rose is one rose is one rose is one rose... ( Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa). Nós poderíamos parafrasear Gertrude Stein e dizer sobre a nova onda que assalta a telinha “Uma bunda é uma bunda é uma bunda é uma bunda...”

Severino Francisco – Jornalista In, Radcal nº 18


A bunda que engraçada
Carlos Drumond de Andrade

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
rebunda.


A cerveja e o assassinato do feminino
Berenice Bento

Há muitas formas de se assassinar uma mulher: revólveres, facas, espancamentos, cárcere privado, torturas contínuas. Mesmo com um ativismo feminista que tem pautado a violência contra as mulheres como> uma das piores mazelas nacionais, a estrutura hierarquizada das relações
entre os gêneros resiste, revelando-nos que há múltiplas fontes que alimentam o ódio ao feminino.
Como não ficar estarrecida com a reiterada violência contra as mulheres nos comerciais de cerveja? Com raras exceções, a estrutura dos comerciais não muda: a mulher quase desnuda, a cerveja gelada e o homem ávido de sede. As campanhas são direcionadas para o homem, aquele que pode omprar.
Alguns exemplos: uma mulher faz uma pequena dissertação sobre a cerveja para uma audiência masculina, incrédula de sua inteligência. Logo o mal-entendido se desfaz: claro, uma mulher não poderia saber tantas coisas se tivesse como mentor um homem; a mulher é engarrafada,
transformada em cerveja; um mestre obsceno infantiliza e comete assédio moral contra uma discípula; ela é a BOA. Quem? O quê? A mulher ou a cerveja?
Todos os comerciais são de cervejas diferentes e estão sendo exibidas simultaneamente. Nesses comerciais não há metáforas. A mulher não é 'como se fosse a cerveja': é a cerveja. Está ali para ser consumida silenciosamente, passivamente, sem esboçar reação, pelo homem. Tão
dispensável que pode, inclusive, ser substituída por uma boneca sirigaita de plástico, para o júbilo de jovens rapazes que estão ansiosos pela aventura do verão.
Se já criminalizamos alguns discursos porque são violentos, não é possível continuarmos passivamente consumindo discursos misóginos a cada dia, como se o mundo da televisão não estivesse ligado ao mundo real, como se as violências ali transmitidas tivessem fim no click do controle remoto.
Embora a matéria-prima para elaboração desses comerciais esteja nas próprias relações sociais, nas performances ali apresentadas há uma potencialização da violência. Não há uma disjunção radical entre violência simbólica e física. Há processos de retroalimentação.
A força da lei já determinou que os insultos racistas conferem ao emissor a qualidade de racista. Também caminhamos para a criminalização da homofobia em suas múltiplas manifestações, inclusive dos insultos.
Por que, então, devemos continuar repetidas vezes ao longo do dia a escutar 'piadas' misóginas, alimentando a crença na superioridade masculina sem uma punição aos agressores? Sabemos da força da palavra para produzir o que nomeia, sabemos que uma piada homofóbica, racista, está amarrada a um conjunto de permissões sociais e culturais que autoriza o piadista a transformar o outro em motivo de seu riso. Agora, é incalculável o estrago que imagens
reiteradas de mulheres quase desnudas, que não falam uma frase inteligente, que estão ali para servir a sede masculina, invisibilizadas em duas tragadas, provocam na luta pelo fim da violência contra as
mulheres.
Da mesma forma que o 'piadista' racista e/ou homofóbico acha que tudo não passa de 'brincadeira', o marqueteiro misógino supõe que sua 'obra-prima' apenas retrata uma verdade aceita por todos, inclusive por mulheres: elas existem para servir aos homens. E como é uma verdade
aceita por todos, por que não brincar com ela? Ou seja, nessa lógica, ele não estaria fazendo nada mais do que reafirmar algo posto. Será? Não é possível que defendam aquela sucessão de imagens violentas como 'brincadeiras'. Essa ingenuidade não cabe a alguém que sabe a força da imagem para criar desejos.
O que pensam os formuladores dos comerciais? Que tipo de mulheres habita seus imaginários? Por que há essa obsessão pelos corpos femininos? Será que eles ainda pensam que as mulheres não consomem cerveja?
Não se trata de negar a mulher-consumível, coisificada, pela mulher consumidora, mas de apontar os limites de uma estrutura de comercial que peca inclusive em termos mercadológicos. Tal qual o assassino que matou sua esposa acreditando que suamasculinidade está ligada necessariamente à subordinação feminina, a cada gole de mulher, o homem sente-se, como em um ritual, mais homem.
Conforme ele a engole, ela desaparece de cena para surgir a imagem de um homem satisfeito, feliz; afinal, matou sua sede. É um massacre simbólico ao feminino. É uma violência que alimenta e se alimenta da violência presente no cotidiano contra as mulheres.

BERENICE BENTO é doutora em sociologia, pesquisadora associada do Departamento de Sociologia da UnB e autora do livro 'A Reinvenção do Corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual'."


Oprimidas pelo ideal de beleza
Carla Rodrigues

Os modelos de beleza estão desempenhando, nesse momento, um papel impositivo, e estabelecem um ideal de feminilidade fora do qual a existência é impossível. É desse tema que trata o trabalho “De menina a mulher, impasses da feminilidade na cultura contemporânea”, da psicanalista Silvia Alexim Nunes. Doutora em Saúde Coletiva pelo IMS/Uerj, Silvia traz para o papel a experiência de uma paciente adolescente, Clara, que tem como objetivo se tornar uma mulher de sucesso. Sua principal condição para que se sinta feliz é tornar esquelético o seu corpo roliço.
O corpo aparece, para Clara, como obstáculo para que ela se considere bem-sucedida, ou seja, bonita, rica e desejável. Clara supõe, destaca Silvia, que “sucesso é felicidade e, mais ainda, que ambos dependem, principalmente para as mulheres, da beleza e do cultivo do corpo”. A preocupação com o corpo feminino não é, lembra a psicanalista, novidade. Quando, no final do século 19, as histéricas lotaram o consultório de Freud e o levaram a diagnosticar os sintomas do efeito da repressão da sociedade contra a mulher, estavam se rebelando contra as regras em vigor desde o século 17.
Até então, as mulheres viviam oprimidas pelo que a medicina considerava as "características naturais" das mulheres, como a fragilidade, a timidez, a doçura, a sedução e a afetividade. Das histéricas até aqui, o que as mulheres conquistaram foi, além de voz, a possibilidade de construir modelos de feminilidade que melhor lhes conviesse. A imposição que já se deu a partir da ciência se reapresenta, agora, através da estética, que tem desempenhado o mesmo papel impositivo.
Silicone, cirurgias estéticas, horas por semana dedicadas a exercícios e academias de ginástica, dietas constantes, tudo isso tomou o lugar da antiga concepção de que o corpo feminino é imperfeito e de que a feminilidade é símbolo da fragilidade humana. Quanto mais as mulheres experimentam seus corpos como inadequados, mais se sentem fracassadas, impotentes, descontentes com a sua condição de mulher. O controle sobre os corpos femininos, que Silvia identifica hoje na estética, está presente desde a constituição do modelo burguês que inaugurou a modernidade, e que fez das mulheres peças fundamentais para a reprodução de uma população saudável. Mãe e mulher, aqui, se confundem, em nome de um padrão de saúde e higiene.
Neste aspecto, Silvia chama atenção para a quantidade de recursos que a medicina tem criado para sumir com os ciclos menstruais, que ela interpreta como forma de apagar as marcas da feminilidade. Quando a ciência ainda não sabia explicar o que significava o sangue da menstruação, considerava que aquele momento significava um estado de impureza da mulher. Depois, a medicina do século 19 passou a considerar os ciclos menstruais como momentos em que as mulheres ficariam mais suscetíveis emocionalmente, identificando o sangramento como sinal de fragilidade do corpo da mulher. Agora, Silvia alerta, o ideal da mulher liberada é atravessar o mês inteiro sem sinal perceptível de menstruação.
Silvia localiza o problema na puberdade, que é quando a ditadura da estética começa a se impor, mas lembra que esse conflito pode aparecer em outros momentos da vida da mulher – ou até mesmo se perpetuar. Na outra ponta, o envelhecimento também oferece o mesmo risco de a mulher experimentar seu corpo como “inadequado, insuficiente, imperfeito, instalando, assim, um conflito com sua feminilidade.” A forma de escapar da opressão pela beleza é, segundo ela, estabelecer uma relação positiva com o corpo, vivendo a feminilidade como forma de prazer, e não de sofrimento. Para isso, a psicanálise, defende Silvia, tem muito a contribuir.
A escapatória estaria em fugir da massificação e apostar na singularidade. Não chega a ser contraditório que o mesmo tempo em que é dada à mulher a liberdade de ser como bem entender seja também o momento em que novos rigores se impõem, acirrando o conflito entre seguir as regras externas ou apostar nas marcas individuais. Se o tão criticado individualismo serve para alguma coisa, é para colocar essa possibilidade – a de que cada sujeito seja absolutamente único na multidão.
Ou, como disse o filósofo italiano Antonio Negri, “o pós-moderno insere a diferença como recusa ao sistema compactado do capital”. Autora de “O corpo do diabo entre a cruz e a caldeirinha - Um estudo sobre a mulher, o masoquismo e a feminilidade”, Silvia apresentou seu trabalho sobre os efeitos perversos da estética numa mesa de debates realizada no evento Estados Gerais da Psicanálise, ocorrido no Rio no final de outubro, durante o qual Negri fez sua conferência.


ÍNDIA
O país em que meninas não são bem-vindas

O cartaz pintado a mão fica em frente a um consultório médico num bairro arborizado de Nova Délhi, capital da Índia: é uma advertência de que este bairro de casas muradas, carros importados e clubes privativos respeita a lei. ‘‘Aqui não se faz exame pré-natal para determinar o sexo’’, indica o cartaz. ‘‘Esses exames são um delito.’’
Mas é evidente que a lei tem exceções. ‘‘A mentalidade da Índia é que é preciso ter um filho homem, diz uma jovem de Nova Délhi, pertencente a uma família rica. Depois de dar à luz uma filha, a família do seu marido exigiu que a jovem se submetesse no futuro a exames de determinação pré-natal do sexo. Quando suas três gestações seguintes revelaram que eram meninas, a obrigaram a abortar. Neste país, a família do marido é quem manda.
Em quase toda a Índia dá-se preferência a filhos homens, que não requerem dotes para se casar e podem acender as piras fúnebres de seus pais. A mulher casada vai morar com a família do marido. ‘‘Criar uma filha’’, diz um velho ditado hindu, ‘‘é como regar um jardim árido’’.
Esta preferência conduz a práticas como o assassinato de meninas ao nascere, ilegal desde mais de um século, mas muito comum nesta nação de 1.050 milhões de habitantes. E os testes pré-natais trouxeram com eles o aborto dos fetos de sexo feminino.
Os ativistas e as autoridades sustentavam que este era um problema dos setores pobres e incultos, que se remediaria gradualmente mediante a educação, a lei e o crescimento da classe média. Mas à medida que a classe média florescia nas últimas décadas e se fortaleciam as leis de proteção às meninas, a situação só foi piorando. E as piores zonas são os bairros onde vivem os ricos.
Há seis anos, frente à difusão da tecnologia de ultra-som barata e um desequilíbrio na proporção entre meninas e meninos, a Índia proibiu os testes de determinação de sexo. Os resultados são apenas perceptíveis. Segundo o censo de 2001, entre as crianças menores de 6 anos, há 927 meninas para cada 1 mil meninos, comparando com 945 em 1991 e 962 em 1981. As estatísticas significam que ‘‘faltam’’ entre 20 e 40 milhões de mulheres na Índia como resultado de abortos ou infanticídios, segundo as autoridades do censo e os ativistas.
‘‘Acreditava-se que a urbanização e a prosperidade teriam um efeito modernizador’’, diz Satish Agnihotri, estudioso do que os ativistas chamam de ‘‘feticídio’’. A realidade, diz, é que ‘‘ao aumentar a prosperidade, baixa-se a proporção entre os sexos’’.
É outro exemplo da dicotomia própria da Índia moderna. Cinquenta e cinco anos depois de se tornar independente da Grã-Bretanha, a Índia tem a maior classe média do mundo — calculada em 300 milhões de pessoas —, mas também tem quase 250 milhões de desnutridos. Conta com um dos centros mundiais de desenvolvimento de informática, na cidade de Bangalore, mas 110 milhões de locais ainda carecem de banheiros. É a nação que há décadas elegeu uma primeira ministra, Indira Gandhi, e onde algumas mulheres exercem altas funções acadêmicas, empresárias e do governo, mas a maioria vive reclusa em suas casas, desesperadas pela falta de direitos.
As razões dessas estatísticas de disparidade entre os sexos vão da economia à cultura: as pressões para ter famílias pequenas, os dotes que chegam a milhares de dólares e, o mais importante, o baixo preço dos testes pré-natais para determinar o sexo do feto, que custam menos de dez dólares, e do aborto, feito por 18 dólares. É muito dinheiro para os pobres, ainda que não seja inacessível. Para os ricos, é menos do que custa um jantar num bom restaurante.

Tarsila

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sarah Bernhardt

A MULHER EM NOSSA SOCIEDADE - músicas e poesia

Orientação para a atividade:

1. Discutir em grupo de até 4 pessoas e demonstrar a visão sobre a mulher que está contida nos textos, usando alguns trechos para demonstrar sua tese. Compare os textos.

2. Descrever qual o tipo de linguagem que está contida no texto.

3. Diga qual a função da linguagem, ou seja, qual era a intenção do autor ao fazer o texto. Justifique.

CANTARES DE SALOMÃO

Eis que és formosa, amiga minha; os teus olhos são como os da pomba entre tuas tranças; o teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte de Gileade.
Os teus dentes são como o rebanho de ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro.
Os teus lábios são como fio de escarlate, e o teu falar é doce; a tua fronte é qual pedaço de romã entre as tuas tranças.
O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para pendurar escudos.
O teus dois peitos são como dois filhos gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios.
Tu és toda formosa, amiga minha, e em ti não há mancha.
Tiraste-me o coração, minha irmã! Oh esposa minha! Quanto melhor são os teus amores do que o vinho.
Favos de mel manam dos teus lábios, ó minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano.
Jardim fechado és tu, irmã minha, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.
Que formosos são os teus pés nos sapatos, ó filha do príncipe! As voltas das tuas coxas são como jóias, trabalhadas por mãos de artista.
O teu umbigo como uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre como monte de trigo, cercado de lírios.
A tua estatura é semelhante à palmeira, e os teus peitos aos cachos de uva.
Subirei à palmeira, pegarei em teus ramos; e então os teus peitos serão como os cachos na vide, e o cheiro da tua respiração como a das maçãs.

Você é linda
(Caetano Veloso)

Fonte de mel, nuns olhos de gueixa
Kabuki, máscara
Choque entre o azul
E cacho de acácias, luz das acácias
Você é mãe do sol
A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta.
Você me deixa rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás
Linda e sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer e diz
Você é linda, mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é forte, dentes e músculos
Peitos e lábios, você é forte
Letras e músicas, todas as músicas
Que ainda hei de ouvir
No Abaeté, areias e estrelas
Não são mais belas do que você
Mulher das estrelas
Mina de estrelas
Diga o que você quer

Você é linda e sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer e diz
Você é linda mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Meu anjo
(Álvares de Azevedo)

Meu anjo tem o encanto, a maravilha
Da espontânea canção dos passarinhos
Tem os seios tão alvos, tão macios
Como o pêlo sedoso dos arminhos.

Triste de noite na janela a vejo
E de seus lábios o gemido escuto
É leve a criatura vaporosa
Como a frouxa fumaça de um charuto

Parece até que sobre a fronte angélica
Um anjo lhe depôs coroa e nimbo
Formosa a vejo assim entre meus sonhos
Mais bela no vapor do meu cachimbo

Como um vinho espanhol, o beijo dela
Entorna ao sangue a luz do paraíso
Dá morte num desdém, num beijo vida
E celestes desmaios num sorriso

Mas quis a minha sina que seu peito
Não batesse por mim nem um minuto,
E que ela fosse leviana e bela
Como a leve fumaça de uma charuto

Destrambelhada
(Bimba, Deco do Cavaco)

Olha ela aí com seu jeito sensual
Dizem que ela é louca
Que nada!
É uma tentação, abala o coração
Neguinho tá de olho nela
Mas eu também estou de olho nela
Mas não respeita nada, nada, nada
Nada nem ninguém
Primeiro ela cola, deita e rola
Depois joga fora
Anda seminua pela rua
Vivendo a provocar
Não se espante
Se alguém te chamar
Nega, maluca, solteira, tarada


Suada

Tá que tá que tá suando
Tá ficando molhadinha
Eu to sentindo o cheirinho da calcinha
Eu vou pegar o telefone e o endereço da gracinha
Eu vou pular o seu quintal e roubar sua calcinha
Boquinha Boquinha peitinho peitinho xibiu xibiu
Bundinha Bundinha
Boquete boquete


Leve
(Zeppa e Jorge Vercílo)

Levitar dos colibris, graciosamente breve
Como pode tão feliz?
Censurar ninguém se atreve
Não precisam inventar
Qualquer coisa que me eleve
Basta seu sorriso pra dispensar asa-delta
e ultra-leve
Se carece de definição:
Me sinto leve
Céu azul na bolha de sabão que o vento leve como folha, o coração
Ao te refletir , um espelho em si
Vira quadro ou vira arte
Salvador Dalí não ousou
Imaginar-te
E eu me sinto flutuar
Maravilha que me elege
Feito pipa pelo ar
Mar azul na areia bege
Como brisa a me beijar
Teu carinho me protege
Me abraça, me derrete ao brincar
Como mar no iceberg
Com você não tem explicação
Me sinto leve
Céu azul na bolha de sabão

Mata virgem
(Raul Seixas)

Você é um pé de planta
Que só dá no interior
No interior da mata
Coração do meu amor
Você é roubar manga
Com os moleques no quintal
È manga rosa espada
Guardiã do matagal

Qual flor de uma estação
Botão fechado eu sou
Se amadurecendo
Pra se abrir no meu amor
Umidade e orvalho
Que o sol não enxugou
Você é mata virgem
Pela qual ninguém passou
É capinzal noturno
Escuro e denso protetor
De um lago leve e morno
Teu oásis, teu amor

Qual flor de uma estação
Botão fechado eu sou
Se amadurecendo
Pra se abrir no meu amor

Arrufos

As classes perigosas

Cadernos e livros nas carteiras. Crianças encostadas nas paredes. Meninos de um lado, meninas de outro. No lugar do professor, policiais militares fazendo revista. Não é cena de nenhum enlatado americano nem a ação de nenhuma ditadura africana ou sul americana. Trata-se da mais nova (ou seria velha) estratégia de combate à violência e ao porte de armas nas escolas públicas de Brasília.
Depois de séculos de reflexão sobre a questão pedagógica e das inúmeras tentativas de transformar a escola num lugar agradável para se ensinar e aprender, ela é agora vista como o espaço de manifestação de condutas violentas e se cobra dela colaboração na repressão. Para isso são erguidos muros, grades, instalam-se detetores de metal, câmeras de vídeo e coloca-se a polícia na sala de aula (talvez não tenham entendido bem a afirmação de que a polícia tem de voltar à escola!). É a pedagogia da segurança. Tudo para constatarmos assombrados que a violência não acaba.
O que chama mais atenção é que a escola, espaço de formação e socialização dos mais novos, seja vista hoje como um lugar de perigo. Paradoxalmente, a instituição que é responsável pela transmissão da cultura é encarada como o lugar da barbárie. O que se diz é que os responsáveis (e principalmente as vítimas) por esta violência são os jovens. As estatísticas policiais mostram as armas apreendidas em escolas, as explosões de bombas, o tráfico de drogas. A sociedade clama por uma solução.
A gravidade do problema e o medo que suscita abrem espaço para todo tipo de idéias que vão desde a proibição da venda de armas, passando pela redução da idade para imputabilidade penal até o que nos interessa aqui, a revista das crianças nas salas de aula.
À parte o fato de que precisamos de altenativas ( diria soluções estruturais), é necessário dizer que algumas das idéias em voga são pseudo soluções. Revista na sala de aula não é só pseudo solução é anti-solução.
A entrada da polícia numa sala de aula em uma escola de periferia para revistar crianças, aprofunda entre elas a percepção da escola como um lugar de repressão, um lugar onde não são respeitadas. Além disso, quebra a confiança que os jovens ainda depositam em seus professores, pois estes passam a ser vistos como aliados da repressão. Será que um jovem viciado terá a mesma abertura para uma conversa com a orientadora educacional após a instalação da pedagogia da segurança em sua escola? Ademais, não é novidade a profunda desconfiança que a polícia provoca em muitos jovens de periferia. Seus métodos de ação são muito criticados e os relatos de violência policial são constantes nas salas de aula. Esta desconfiança envolverá também a escola na medida em que ela passa a fazer parte do aparelho policial.
Outra objeção importante à pedagogia da segurança tem origem no seu caráter discriminatório, já que estas operações “Varredura” (é este o nome dado pela polícia) ocorrem em escolas públicas de periferia mas não são levadas a efeito nas escolas da classe média. É a velha ideologia das “classes perigosas” traduzida agora para “classes escolares perigosas”.
A polícia e a escola são duas instituições necessárias numa sociedade democrática, mas paradoxalmente, a importância de uma cresce na proporção inversa à importância da outra. Quando a polícia fica muito importante é porque a escola deixou de sê-lo. Na rua, a polícia é necessária na repressão às armas e crimes. Na sala de aula, o professor cumpre sua função milenar de transmissão da cultura, da civilização e da paz. A pedagogia da segurança é um erro porque transforma a escola no lugar onde os jovens são reunidos para serem controlados, quando deveríamos colocá-los juntos para educá-los. A polícia entrar na sala de aula é como o general entrando no parlamento para fechá-lo
O problema é grave, mas não nos iludamos com soluções fáceis, pois em geral o preço pago por elas é muito grande para suportarmos. Nunca é demais lembrar que os EUA, uma das sociedades que mais reprime a criminalidade inclusive nas escolas, é uma das mais violentas e suas instituições educacionais não são “lugares seguros”. Basta ver as chacinas que ocorrem nas escolas americanas para perceber que não temos a obrigação de copiá-los. Tudo leva a crer que estamos fazendo concessões demais à ideologia da segurança e todas as vezes que as sociedades fizeram isto o preço foi muito alto: a perda da liberdade.
Criminalizar as crianças não é a melhor alternativa, tampouco colocar a polícia na sala de aula, pois os jovens vão encontrar outras maneiras para resolver seus conflitos se não os ensinamos a lidar com eles através da palavra. A escola não é a solução nem o principal locus da violência urbana, mas pode proporcionar, através de um processo pedagógico lento, um espaço para que as crianças e jovens se armem dos instrumentos da cultura indispensáveis para saírem da sua condição de inferioridade social e em alguns casos de violência. Os educadores não podem tirar armas da cintura dos jovens, mas podem ajudá-los a tirá-las da cabeça.
A pedagogia da segurança não resolve e ainda cria mais um problema para a escola que é o do esgarçamento da confiança entre professores e alunos. Enfim, é preciso gritar em alto e bom som que a escola deve ser um lugar livre da violência, mas também não pode ser um caso de polícia. Mãos ao livro, crianças!
José Edmar de Queiroz

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Angelus

Dom Casmurro - contexto

– Na 2ª metade do século XIX, na Europa, a burguesia consolidou seu poder e estabilizou suas bases ideológicas (o liberalismo político) e materiais (o liberalismo econômico): era a vitória do capitalismo industrial e da idéia do lucro.

– A Europa assistia a uma intensa onda de progresso: a implementação acelerada do sistema capitalista, o avanço industrial e a mecanização do mundo e da vida já esboçava a sociedade moderna com a aceleração das comunicações com novas técnicas de impressão, as quais agilizavam a circulação de jornais e livros; as máquinas a vapor sofisticavam o sistema de locomoção; o uso da eletricidade etc.

– Todo esse processo intensificou as contradições e tensões político-sociais entre a alta burguesia e o proletariado, que constituía a maior parte da população, ainda excluída dos benefícios do progresso, e que luta contra a opressão da ideologia burguesa dominante. Surgem os primeiros movimentos do proletariado e as primeiras greves.

– A pequena burguesia (classe média da época) une-se ao proletariado, num primeiro momento, e passa a ser a classe social dominante, em detrimento do clero e da aristocracia.
– Avanços marcantes na ciência e na medicina, como: a formulação da teoria microbiana das doenças, a descoberta de microorganismos (sífilis, malária, tuberculose), a assepsia, a utilização de anestésicos, a publicação da teoria da evolução das espécies, que, dentre outras ainda, geraram o “espírito científico”, revolucionando as maneiras de pensar, de viver, de produzir arte.


Os métodos da ciência se estendem a todos os domínios da vida humana, surge a Geração Materialista.
A Ciência desvenda o mundo!

O suporte intelectual da Geração Materialista do século XIX
(as principais correntes de pensamento):

Positivismo (Augusto Comte): filosofia que partia do princípio de que o único conhecimento válido é o conhecimento positivo, isto é, oriundo da ciência (ou que pode ser analisado cientificamente). Sustentava que a realidade só poderia ser analisada a partir da observação dos fatos, rejeitando qualquer explicação metafísica (corpo de conhecimentos racionais e não-empíricos em que se procura determinar as regras fundamentais do pensamento) para a origem do homem e do mundo (negando a origem divina do mundo). Acredita na capacidade do homem de amar e ser solidário socialmente. (filosofia intimamente ligada à idéia do progresso, inspiradora do lema republicano da bandeira nacional: “Ordem e progresso”)

Determinismo (Hipolite Taine): o homem é produto das forças fisiológicas (temperamento, hereditariedade, raça, clima) e ambientais (sociedade, educação); o comportamento humano é determinado pela confluência de três fatores – meio , raça e momento histórico.

Evolucionismo ou darwinismo (Charles Darwin): dando continuidade (sob outro enfoque) à teoria do evolucionismo de Lamarck (o universo e o homem estão em constante evolução), apresenta a teoria da seleção natural, segundo a qual a natureza ou o meio selecionam, entre os seres vivos, as espécies mais aptas a sobreviver e perpetuar-se. A seleção natural faz os mais fortes derrotarem os mais fracos.

Socialismo (Proudhon) e socialismo científico (Marx e Engels): na luta de classes, o poder burguês tende a ser superado pelo poder do proletariado.

A negação do Cristianismo (Renan): a crença absoluta nas conquistas das ciências (em detrimento da perspectiva religiosa como um todo, e do Cristianismo em particular) para explicar o universo.
Em suma:
Materialismo: tudo é matéria. Todo conhecimento é sensorial. Toda idéia e atitude têm uma base material.
Nesse contexto, surgiu a arte realista.
Contexto histórico – Brasil:
O Brasil também se modernizava (salvas as devidas proporções) e a idéia do progresso, do desenvolvimento do País também dominava as mentalidades, sob influxo do Positivismo. Divulgavam-se idéias de intelectuais que viam no método científico um caminho para a renovação do pensamento histórico, político e econômico do País. Foi uma época marcada por mudanças, como:

– A extinção do tráfico de escravos acumulou capitais vultosos investidos em atividades urbanas e na implantação de indústrias e incrementou o progresso da burguesia, que residia nas cidades.

– Foi notável o progresso tecnológico no período: aparelhamento dos portos, inauguração da primeira estrada de ferro e do telégrafo, emprego da energia elétrica. Surgiram os primeiros jornais com periodicidade regular.

– Um novo tipo de mão-de-obra entrou no país: a do imigrante assalariado, que vinha substituir o trabalho escravo.

– Paralelamente, ocorria a marginalização dos negros. Em 1888, foi assinada a Abolição da Escravidão..

– A Monarquia chegava ao fim. A República foi proclamada em 1889, sob forte influência do Positivismo

Capitu: o monstro silenciado

Linda Catarina Gualda (UNESP)
“Era mulher por dentro e por fora, mulher à direita e à esquerda, mulher por todos os lados, e desde os pés até a cabeça”. (Assis, 1997: 183)
A narrativa de Machado de Assis joga com os valores culturais e sociais vigentes no período imperial, isto é, a condição feminina apresentada é clara: está presa ao estabelecido, conserva o padrão; mas no discurso reservado, no fluxo do pensamento, as personagens refutam, questionam os papéis que lhe são impostos na sociedade brasileira. Capitu é um exemplo de mulher que transcende a definição de esposa, mãe e mesmo o estereótipo de mulher. Ela busca uma maneira de transpor o estabelecido; luta por emancipar-se, pois está cansada das exigências sociais e familiares que lhes são destinadas; quer experimentar algo que saia de si própria. De fato, a heroína pode ser um exemplo da humanidade aterrorizadora, porque permanece icognissível ao ser apresentada através da visão doentia e perturbada de Bento Santiago. Este, como vítima de sua própria retórica está no plano da imaginação e pode ser visto como um perdedor.
Ao contrário de Luísa, Capitu representa a mulher emancipada, a que se coloca tanto no plano espiritual, quanto no sexual e se mantém ativa, nunca passiva. Seu traço mais pertinente é uma independência quase intrínseca à sua natureza. Há uma leveza, uma espontaneidade em sue espírito que a coloca acima dos papéis que lhe eram reservados na cultura e na sociedade a que pertencia. Roberto Schwarz (1977: 24-5) observa que Capitu consegue satisfazer todos os quesitos da individualização, pois é forte o suficiente para não se degradar diante da vontade superior. O encanto da personagem, segundo o crítico, se deve à naturalidade com que se desloca no meio em que vive e superou. A personagem é um tipo de extraordinária vitalidade “soma e fusão de múltiplas personalidades, espécie de supermulher” (Pereira, 1959: 24).
Podemos perceber que a construção da figura de Capitu é intencional como montagem de uma armadilha narrativa. Certas características sugeridas na primeira parte do romance têm o papel de apoiar a traição que o narrador da segunda parte nos empurra. Ao longo desse percurso, o objetivo de Bentinho parece ser o de caracterizá-la como uma jovem voluntariosa, ativa, racional, calculista, capaz de lidar facilmente com situações embaraçosas e que está disposta a tudo para atingir suas metas. O que se pode dizer é que o narrador montou sua narrativa de modo a fazer caber na Capitu de Matacavalos a Capitu adúltera da Glória e a faz parecer como um ser reprimido, sem contorno e silenciado.
Capitu pode ser vista como o feminino inquietante (Cf. Passos, 2003 15), o perigo invisível que ronda a casa, que está sempre por perto. Para sustentar a verossimilhança do romance, Machado constrói uma imagem de mulher perigosa e apela para alguns dados de categorias de mulheres que destroem a vida e a reputação de um homem. Nossa heroína conflui para a dissimulação e, por isso, quando é feita a comparação com Desdêmona, não há nenhuma chance de perdoá-la ou de nos apiedarmos dela. A sapiência em lançar, desde o início da trama, características e episódios que a sustentam como ser superior e bem mais dotado de racionalidade do que Bentinho, nos causa a sensação de que qualquer passo de Capitu fora previamente arquitetado. E é esse tipo de caracterização que possibilita a aceitação da teoria de adultério engendrada pelo narrador. De fato, Capitu abre precedentes para que se duvide de suas intenções, mas nem por isso se pode afirmar que estamos lidando com uma personagem calculista e transgressora.
O tema da mulher fatal é tão recorrente na obra que o tempo todo o vemos relacionado com a degradação e, sobretudo com a perda da inocência do narrador. Além disso, várias vezes, durante a narrativa, temos a descrição física de Capitu que sempre aparece como um ser mais capacitado, infinitamente mais maduro e dotado de muito mais atributos e sensualidade do que Bentinho/Casmurro.
O corpo de Capitu está sempre em evidência, propiciando relações e imagens de vários tipos: os olhos, por exemplo, “são claros e grandes” (Assis, 1997: 85) ou então, “são de cigana oblíqua e dissimulada” (Assis, 1997: 85) e os braços são tão deslumbrantes que “merecem um período” (Assis, 1997: 210). Esses traços a faz oscilar entre a mulher fatal e a dona de casa. Como a primeira, encontra na rua o ambiente ideal para se deixar contaminar pela possibilidade de traição: a figura feminina ao se mostrar num espaço público instaura a dúvida, a ambigüidade, pois apresenta a chance de se oferecer, na condição de promessa ou, até mesmo, mercadoria. A partir daí, o mundo exterior penetra no interior e temos a instalação do caos. Já a idéia de mãe e esposa dedicada está marcada pelo dado religioso, pela satisfação em estar casada e pela devoção ao marido e ao filho. É esse misto de mistério e encanto, de anjo e monstro, que a tornará tão enigmática e interessante.
Todavia, não podemos esquecer que estamos lidando com um narrador autoritário e que pertence a uma sociedade patriarcal e sendo assim, vê a mulher como ser subalterno, inferior. Nesse sentido, os olhos de Capitu correspondem em termos de força e intensidade, às palavras do marido. A mulher é silenciada e sua voz transborda através do olhar que trava uma luta intensa com o homem, detentor da palavra, em outras palavras, detentor do poder. O narrador se interpõe a ela com a voz autorizada de alguém culto e capacitado para falar, não tentando salvá-la, ao contrário, condenando-a ainda mais à solidão, ao desprezo. Silenciada, acuada e sem a menor possibilidade de defesa, a mulher deverá ser punida de sua possível transgressão – de preferência com a morte –, a fim de que seja mantida a ordem na sociedade. O envio de Capitu à Suíça e lá sua morte simbolizam a manutenção da ordem rompida e põe um fim ao risco
Não apenas porque rearticula a moral, fazendo com que ao desregramento suceda a ordem anterior, mas também porque ajuda a configurar – juntamente com a doença e a decrepitude, o império do desprazer. Não há lugar, no mundo organizado da produção, para essa figura – inquietantemente perdulária – que, ao mesmo tempo, liberta e aprisiona o homem (Passos, 2003: 58).
De fato, a força de Capitu preenche perfeitamente a fraqueza de Bentinho: ela é completa, enquanto o narrador é todo constituído por partes, uma figura montada pela mãe, pela condição social e por insegurança; é mais parte do ciúme do que da maturidade. A mulher é tão maior que ele que, mesmo depois de morta e “culpada”, ainda preenche seu imaginário. O fato de reunir num livro suas memórias e, principalmente, a lembrança de um tempo em que ela era peça-chave em sua vida só vem a provar o quanto ela sempre foi e ainda é a parte mais forte e importante de sua vida. Apesar de ambos terem mantido uma relação de decadência, para o narrador não há mais superação, não há mais possibilidade de felicidade e o único consolo é a reconstrução da casa de sua infância no afã de trazer os tempos áureos de volta.
De acordo com Eugênio Gomes (1967: 102), Capitu é submetida a um processo de despersonalização que ressalta os atributos de eterno-feminino, já que sua apresentação – implícita – nos é fornecida no correr da ação ou na análise progressiva pelo pseudo-autor, através de associações dinâmicas – flashes retrospectivos e antecipatórios. Esse tipo de caracterização vai de encontro com a realidade oscilante do romance, produto de uma imaginação, não apenas de lembranças.
Vale ressaltar que Capitu é incapaz de agir puramente por interesses próprios, porque qualquer declaração de sentimentos verdadeiros é interpretada como ambição. Na verdade, o fato de não ser levada a sério, no sentido de não ser considerada uma pessoa confiável, constitui o verdadeiro dilema da personagem que, acuada e rejeitada, faz a opção pelo silêncio como escudo. O ato de não falar podem ser traduzido como o resultado de sua situação ambígua e de seu “limitado campo de manobra” (Gledson, 1991: 74).

Gauguin

Lições Corporativas

Lição No.1
Um homem está entrando no chuveiro enquanto sua mulher acaba de sair dele e está se enxugando. A campainha da porta toca. Depois de alguns segundos de discussão para ver quem iria atender a porta a mulher desiste se enrola na toalha e desce as escadas. Quando ela abre a porta, vê o vizinho Bob em pé na soleira. Antes que ela possa dizer qualquer coisa, Bob diz: "Eu lhe dou 800 dólares se você deixar cair esta toalha." Depois de pensar por alguns segundos, a mulher deixa a toalha cair e fica nua. Bob então entrega a ela os 800 dólares prometidos e vai embora. Confusa, mas excitada com sua sorte, a mulher se enrola de novo na toalha e volta para o quarto. Quando ela entra no quarto, o marido grita do chuveiro "Quem era?" "Era o Bob, o vizinho da casa ao lado." - diz ela. "Ótimo! Ele lhe deu os 800 dólares que ele estava me devendo?"
Moral da história:
Se você compartilha informações a tempo você pode prevenir exposições desnecessárias!!!
Lição No.2
Dois funcionários e o gerente de uma empresa saem para almoçar e na rua encontram uma antiga lâmpada a óleo. Eles esfregam a lâmpada e de dentro dela sai um gênio. O gênio diz: "Eu só posso conceder três desejos, então, concederei um a cada um de vocês". "Eu primeiro, eu primeiro." grita um dos funcionários. "Eu quero estar nas Bahamas dirigindo um barco, sem ter nenhuma preocupação na vida!" Puf! e ele se foi. O outro funcionário se apressa a fazer o seu pedido:" Eu quero estar no Havaí, com o amor da minha vida e um provimento interminável de pinas coladas!" Puf e ele se foi.
"Agora você" diz o gênio para o gerente.
"Eu quero aqueles dois de volta ao escritório logo depois do almoço." - diz o gerente.
Moral da História :
Deixe sempre o seu chefe falar primeiro.
Lição Nº 3
Um corvo está sentado numa árvore o dia inteiro sem fazer nada. Um pequeno coelho vê o corvo e pergunta: "Eu posso sentar como você e não fazer nada o dia inteiro?" O corvo responde: "Claro, porque não?" O coelho senta no chão embaixo da árvore e relaxa. De repente uma raposa aparece e come o coelho.
Moral da História:
Para ficar sentado sem fazer nada, você deve estar sentado bem no alto.
Lição Nº 4
Na África todas as manhãs uma gazela acordava sabendo que ela deveria conseguir correr mais do que o leão se quisesse se manter viva. Todas as manhãs o leão acordava sabendo que deveria correr mais do que a gazela se não quisesse morrer de fome.
Moral da História:
Não faz diferença se você é gazela ou leão, quando o sol nascer você deve começar a correr.

Lição Nº 5
Um fazendeiro resolve colher algumas frutas em sua propriedade, pega um balde vazio e segue rumo as árvores fruteiras. No caminho ao passar por uma lagoa, ouve vozes femininas que provavelmente invadiram suas terras.
Ao se aproximar lentamente, observa várias garotas nuas se banhando na lagoa, quando elas percebem a sua presença, nadam até a parte mais profunda da lagoa e gritam: nós não vamos sair daqui enquanto você não deixar de nos espiar e for embora.
O fazendeiro responde: eu não vim aqui para espiar vocês, eu só vim alimentar os jacarés !
Moral da História:
A criatividade é o que faz a diferença na hora de atingirmos nossos objetivos.

Van Gogh - O quarto

HOMO ADÃO SAPIENS

Conhecer a origem homem e o seu processo de evolução é uma das tarefas mais desafiadoras e complexas. A ela se entregam cientistas, místicos e religiosos, que tentam desvendar este mistério. O presente ensaio pretende fazer algumas reflexões sobre o tema, abordando os avanços, contradições e limites a que chegaram os estudiosos.
A nossa compreensão sobre a origem do homem está ligada à tradição judaico-cristã que determina que Deus o criou à sua imagem e semelhança a partir do pó da terra. Embora esta seja apenas uma das explicações sobre a origem do homem, dentre tantas outras existentes, o homem ocidental a aceita como válida pois comunga dos valores da chamada civilização judaico-cristã. Da mesma maneira o chinês aceita as explicações provindas de sua cultura, bem como o indiano, o africano e assim por diante. Essas explicações que aqui chamamos de mito não são explicações inferiores, irracionais, “elas apresentam uma notável racionalidade. Tratam-se de explicações evidenciadoras de limites (...) que apelam para a necessidade de agentes externos como razão de ser das coisas e do homem”.¹
Essa racionalidade de que fala o conferencista, pode se exemplificada pela explicação bíblica da criação. Parece haver, nesta explicação, um entendimento da identidade, da unidade do homem com a terra. Hoje é fácil para nós compreendermos que elementos químicos existentes na terra, tais como fósforo, potássio, ferro também fazem parte da fisiologia humana. Os sábios antigos demonstraram, a seu modo e com a linguagem possível da época, também compreender esse fato. Algumas descobertas atribuídas à ciência moderna, não eram nenhuma novidade para os sábios incas, astecas, egípcios, mesopotâmicos ou hindus.
O surgimento da ciência moderna fez com que fossem refutadas algumas das explicações míticas. Foi com Charles Darwin que a explicação científica para a origem da vida ganha um grande impulso. Em suas pesquisas com animais e plantas concluiu que as espécies são mutáveis, isto é, por meio de adaptações graduais, uma espécie pode modificar-se e superar os desafios da natureza. A esse processo chamou de seleção natural e por ele os seres vivos mais aptos sobrevivem em competição com outros seres. Nascia assim a teoria evolucionista que colocou por terra as explicações mitológicas sobre a origem do homem.
Dentre as várias críticas que são feitas à teoria evolucionista, há uma que diz que o homem, nesta desta teoria, é um ser que apenas reage à estímulos da natureza. “Pelo exercício de sua inteligência que é estimulada pelo mundo exterior hostil ao homem – como um verdadeiro empiricista no melhor estilo britânico – começa a aprender pela experiência. O fogo é descoberto ‘ao acaso’ nas larvas vulcânicas (...). O ódio contra um animal o faz utilizar uma pedra ou um pau como arma. E assim o homem descobre a tecnologia.” ² Roberto da Mata pretende fazer uma diferenciação entre evolução e teoria evolucionista. Segundo ele, a teoria evolucionista vê o homem da era vitoriana como etapa final da evolução. O que o autor combate é “a visão evolucionista simplificadora , segundo a qual primeiro surgiu o físico, depois o social; primeiro o grito, depois a fala; primeiro o indivíduo, depois o grupo (...). O homem nasceu de uma dialética complexa e, por isso mesmo reflexiva, onde o desafio da natureza engendra uma resposta, que por sua vez permite tomar consciência da natureza e da própria resposta dada.” ³
É nesta intrincada rede de ações, reações e reflexões que o homem surge e se organiza. É difícil precisar a época exata em que o primeiro homem teria aparecido na Terra. Para melhor periodizar o progresso humano costuma-se dividir a pré-história em períodos correspondentes ao desenvolvimento de suas habilidades, da capacidade de produção e ao domínio da natureza.
O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos propiciou a evolução da consciência cada vez maior e um crescente discernimento e abstração. Ao lado desses fatores, existe a utilização, sempre crescente, por parte do homem, de ferramentas. A principio de paus e pedras. Mais tarde o homem foi aperfeiçoando tais ferramentas, que passaram a constituir em elementos acessórios ao corpo, que complementam, ampliando o trabalho humano. O homem é um animal que tem limites corporais. Por exemplo, não tem a capacidade visual da águia, nem a velocidade do antílope, nem o olfato do cão, no entanto, com a sua capacidade cerebral pode construir ferramentas que o ajudaram a superar seus limites e extrair da natureza os elementos necessários à sua sobrevivência.
Para sobreviver em meio à natureza hostil, o homem se agrupa para somar esforços e garantir sua manutenção individual e dar continuidade à espécie. Esta sociedade primitiva baseava-se na propriedade coletiva dos meios de produção. Só nestas condições que o homem garantiu sua sobrevivência. “Os membros destas comunidades primitivas viviam em conjunto em vários agregados chamados de grandes famílias matriarcais, tinham direitos determinados e eram obrigados a ajudarem-se mutuamente.”4
Paralelo a esse esforço de sobrevivência, o homem, graças à sua capacidade de abstração, começa a criar ritos e cerimônias religiosas. A princípio esses ritos estavam ligados às necessidades imediatas de sobrevivência. Antes da caça praticavam rituais mágicos onde o animal a ser capturado era pintado numa parede e cravejado de flechas. Era uma forma de “capturar o espírito” da fera antes de fazê-lo concretamente. Imaginavam que todos os seres tinham um “duplo”. Desta maneira pensavam estar influenciando a natureza pelo poder do pensamento e através dos espíritos que a governa. Para os primitivos, cada manifestação da natureza era governada por um espírito benfazejo ou malfazejo e os ritos mágicos serviam para agradar tais espíritos e colocá-los ao lado da comunidade.
A crescente complexidade desses ritos e das sociedades que os praticavam vai provocar a passagem destas formas primitivas de religiosidade à formas mais complexas. Vão surgir divindades e sacerdotes que possuem a exclusividade do contato com esses deuses. A incipiente classe dominante vai perceber a importância da religiosidade para controlar os demais membro da sociedade e vai tomar para si a tarefa de organizar a religião e discipliná-la para atendes às suas necessidades. A interpretação dos fenômenos naturais é utilizada pelos poderosos para dominar os trabalhador, para submetê-lo às novas forças sociais. A religião torna-se um instrumento da dominação de uma classe por outra.

_____________________
1 – DINI, Renzo. Filosofia, Filosofar e o Homem. FICB, l990. (Conferência).
2 – MATA, Roberto da. Relativizando. Vozes. 1981, pág. 41.
3 - ______ . Relativizando. Vozes, 1981, pág. 34.




PEDRO LACERDA

Degas - Ensaio de Balé

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CURTAS

CURTA O NOVE

Mostra de Curta Metragens

• Criação de um vídeo (inédito e original) de até 5 minutos;
• Escolher um assunto estudado no ano letivo de 2009. Os temas abordados deverão estar relacionados com os conteúdos das disciplinas;
• Relacionar o conteúdo com a vivência do dia-a-dia dos alunos e da comunidade;
• Aplicação do conteúdo na prática, com soluções de problemas e/ou crítica relacionada ao tema;
• Apresentação prévia do roteiro do filme para o professor da disciplina até o dia 13/10;
• Os grupos deverão ser compostos de 6 ou 7 alunos;
• Os curtas não poderão ser feitos em forma de documentário, telejornal ou de apresentação de seminários;
• Os curtas deverão ter identificação na capa (escola, tema, série/turma, nome e número dos alunos, data) e na mídia (tema e a série/turma);
• As mídias deverão “rodar” em aparelhos de DVD comuns;
• Será atribuída nota no 4º bimestre para algumas disciplinas;
• Data de entrega dos curtas: 25/10

domingo, 25 de outubro de 2009

Eros e psiquê

É POSSÍVEL!!!!!

Dezessete estudantes do C E M 1 do Gama conseguiram aprovação no PAS da UnB

Rodolfo Borges - Correio Braziliense
Publicação: 28/02/2009 08:10 Atualização: 28/02/2009 00:03
Alunos e professores do Centro de Ensino Médio 1 do Gama (CG) comemoram uma proeza alcançada no início deste ano: 17 estudantes do colégio foram aprovados no Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB) e começam a frequentar o ensino superior neste semestre. O número é recorde para a unidade de ensino. O segredo inclui um trabalho de autoestima intenso para fazer os alunos entenderem que a universidade não é um sonho impossível, uma sala de informática utilizada com criatividade, uma rádio interna e o acompanhamento minucioso dos estudantes por professores, muitos deles à frente das turmas durante os três anos do ensino médio.

“Nossa média de aprovações é de oito a 10 por semestre”, compara o professor Fernando Menezes, diretor em exercício do colégio. “Ao contrário dos colégios particulares, nós não preparamos o aluno apenas para esses exames”, destaca. O centro de ensino segue o currículo da Secretaria de Educação e não pode direcionar as aulas para as provas da UnB. As aulas, contudo, são puxadas e tendem a selecionar os melhores alunos, segundo Menezes. “No primeiro ano, exigimos mais — tanto que a quantidade de reprovações é maior nesse nível —, e os alunos chegam com base ao 3º ano”, avalia.

Entre os fatores que ajudam a explicar o sucesso da turma está o trabalho realizado pela coordenadora educacional Marcela Vietes. Funcionária da Secretaria de Educação há 12 anos, a psicopedagoga é a maior entusiasta do projeto universitário na escola do Gama. “Eu realizo um trabalho para melhorar a autoestima dos meninos, porque muitos deixam de se inscrever no vestibular por enxergar a universidade como sonho distante”, explica. A pedagoga costuma contar aos estudantes que, segundo as estatísticas, são os alunos de escolas públicas que têm o melhor desempenho no ensino superior. “O que fazemos é valorizar o ensino público”, resume Vietes, que faz de tudo para convencer os estudantes a prestar os exames.

“Nós entramos nas salas, espalhamos banners pelo colégio, realizamos reuniões e anunciamos na Rádio Escola o prazo para inscrição”, conta. Além de motivar os alunos, a coordenadora educacional do colégio acompanha todos eles durante o processo de inscrição no vestibular e no PAS. Tudo acontece dentro da sala de informática do CG, que é outro ponto forte do colégio. “Alguns dos alunos que foram aprovados não teriam nem se inscrito para prestar o exame se não fosse essa sala”, garante Vietes. Os 40 computadores do laboratório estão disponíveis para pesquisa e costumam ser utilizados pelo professores para diversificar as aulas. “Nós devemos muito à escola, porque eles nos deram todo o apoio de que precisávamos”, elogia Marlon Santana, 18 anos, que passou para o curso de letras-espanhol.

Estrutura
O centro educacional conta com um auditório equipado com caixas de som e microfones e uma sala para teleclasse, além do laboratório de informática. As instalações são tão boas que o CG conseguiu abrigar oito turmas de colégios de Santa Maria que suspenderam as atividades. “A estrutura faz diferença”, comenta o professor de geografia Afonso Batista, militante no CG há seis anos.

Outra vantagem da turma de aprovados, segundo o professor de matemática Hassan Bassis, é que eles foram acompanhados ao longo de todo o ensino médio pelos mesmos professores. “Várias disciplinas foram ministradas pelo mesmo docente no 1º, no 2º e no 3º anos. Nós não precisávamos perguntar que assuntos eles tinham estudado nos anos anteriores”, lembra.

“A gratuidade da inscrição de alunos de escolas públicas nos vestibulares da UnB e a abertura dos câmpus de Ceilândia, Planaltina e Gama também contribuíram muito para esse resultado”, comenta o diretor Fernando Menezes, que considera difícil repetir o feito no próximo ano. “Em 2009 nós temos uma turma a menos”, justifica. O diretor acredita que se 15 alunos foram aprovados, já será bom demais.

Futuro
Aprovado para o curso de engenharia do câmpus do Gama, o estudante Douglas Henrique de Oliveira Paiva, 17 anos, se diz tranquilo em relação ao futuro. “Eu já estava me preparando para fazer cursinho quando soube que havia saído o resultado do PAS. Nunca imaginei que fosse passar”, conta. “Com certeza, o colégio foi o que mais influenciou no meu sucesso”, emenda Davi Rodrigues, 15 anos, aprovado para o curso de Letras-Inglês no câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte.

A opinião de Davi é reforçada pela mãe, Maria da Paz, mas a dona de casa acha que é preciso mais do que bons professores para assegurar o sucesso de um vestibulando. “Pais, alunos e professores têm que estar envolvidos nesse processo. Se a família não participar, não dá certo”, analisa a mãe, que já tinha celebrado a aprovação do filho Adriel Rodrigues no curso de letras-espanhol, em 2006. Hoje, Adriel, que estudou no Centro de Ensino Médio 2 do Gama e faz parte do Centro Acadêmico de Letras, dá dicas aos calouros. “A UnB se destaca entre as universidades que conheço, e olha que conheço várias”, diz o estudante.

Setor Oeste, a referência

Outra escola pública que costuma se destacar no Distrito Federal é o Centro de Ensino Setor Oeste (CESO). Na 3ª etapa do Programa de Avaliação Seriada deste ano, por exemplo, 21 estudantes da unidade de ensino, na 912/913 Sul, passaram nos exames da Universidade de Brasília. “O Setor Oeste sempre teve o trabalho voltado para a construção da cidadania, mas, para tanto, é preciso dar condições para que o aluno mude de vida”, argumenta o professor Carlos da Costa Neves Filho, supervisor pedagógico do CESO. Criado na década de 1980, o colégio se tornou famoso pela qualidade. A escola foi concebida para formar estudantes tão preparados quanto os alunos de instituições privadas.

É esse diagnóstico que transforma a aprovação de 17 alunos do Centro de Ensino Médio 1 do Gama em algo tão significativo, como reforçam os mestres de lá. “Quem faz a diferença são os estudantes. Eles são dedicados e esforçados. Têm uma capacidade de abstração impressionante”, resume Hassan Bassis, professor de matemática.

O CORAÇÃO TEM RAZÕES QUE A RAZÃO DESCONHECE

As personagens e suas características:
 PEDRO: adolescente astuto, intelectual, perspicaz. Nele, a razão predomina sobre a emoção. Possuía fortes “razões” para namorar Vera, uma vez que a emoção, por si só, não levaria a nada,
 JOÃO: jovem alegre, agradável, mas de cabeça vazia; andava sempre junto de Vera, dando a entender possível namoro.
 VERA: uma gatinha de 16 anos, sempre na moda e alegre.
Na hora do recreio, no pátio do colégio. Pedro aproxima-se de João e pergunta:
- Por que você está triste, João? Está doente?
- Não, cara, é que não tenho uma moto. Já pensou quantas garotas eu não conquistaria com uma 250 cilindradas?
- Nenhuma amigo, nenhuma do porte estático de Vera. Se você tivesse uma moto, só conquistaria “patricinhas” ou “peruas”, pois as pessoas atraem pelo que são e não pelo que têm – respondeu Pedro.
- Eu faria qualquer coisa para conseguir uma moto. Qualquer coisa!
Pedro sabia que João e Vera eram muito chegados e, por isso, perguntou:
- João, você namora Vera?
- Acho que ela é legal, mas não sei se isso poderia ser considerado namoro. Por quê?
Passado o mês de férias, julho, ambos retornaram ao colégio e continuaram a conversa:
- Já conseguiu a moto, João?
- Não, Pedro, não tenho dinheiro para compra-la.
- Pois eu tenho uma moto. Meu irmão mudou-se para os EUA e deixou-a pra mim. Como eu não gosto de moto...
- Mas que legal, cara! Quando posso busca-la?
- Hoje mesmo, se quiser. Mas, para ficar com ela, terá que me dar suas coleções de livros e revistas.
- Fechado, cara. Eu não leio mesmo...
- Mas há uma condição: não me impeça de tentar conquistar a Vera.
- Fechadíssimo, irmão!
Pedro, ajudado por João, marca um encontro com Vera na quadra de peteca do colégio. Fica decepcionado com a ignorância de Vera e decide ensinar-lhe lógica.
No encontro seguinte, Vera pergunta para Pedro:
- Sobre o que conversaremos?
- Lógica. Lógica é a ciência do pensamento. Para pensar corretamente, devemos antes considerar alguns erros comuns de raciocínio chamados sofismos ou falácias. Primeiro, vamos examinar o sofisma chamado generalização não-qualificada. Por exemplo: “Leite é bom para saúde. Por isso, todos devem tomar leite”.
- Eu concordo – disse ela, séria – Acho que leite é ótimo para todo mundo.
- Vera, esse argumento é um sofisma. Que ver? Se você tivesse alergia a leite, ele seria um veneno para sua saúde. E são muitas as pessoas que têm alergia a leite. Por isso, o correto seria dizer: “Leite geralmente é bom para saúde”. Entendeu?
- Não. Mas continue falando.
- O próximo sofisma é chamado generalização apressada. Preste atenção: “Você não sabe falar grego, eu não sei falar grego. João não sabe falar grego. Então, devo concluir que ninguém no colégio sabe falar grego”.
- É mesmo? – perguntou Vera, surpresa – Ninguém?
- Esse é outro sofisma. A generalização foi feita de maneira muito apressada. A conclusão se baseou em exemplos insuficientes.
- Ei, você conhece outros sofismas? É mais engraçado do que dançar!
- Bem, então escute o sofisma chamado ignorância de causa: “Alexandre viu um gato preto antes de escorregar. Logo, ele escorregou porque viu um gato preto”.
- Eu conheço um caso assim – disse ela – Bernadete viu um gato preto e logo depois o namorado dela teve um acidente de...
- Mas Vera, esse também é um sofisma. Gatos não dão azar. Alexandre não escorregou simplesmente porque viu um gato preto. Se você culpar o gato, será acusada de ignorância de causa.
- Nunca mais farei isto, prometo. Você ficou zangado?
- Não, não fiquei.
- Então fale mais sobre os sofismas.
- Certo. Vamos tentar as premissas contraditórias.
- Sim, vamos.
- “Se Deus é capaz de fazer qualquer coisa, pode criar uma pedra tão pesada que Ele próprio não consiga carregar?”
- Claro! – ela respondeu prontamente.
- Mas, se Ele pode fazer qualquer coisa, também pode levantar a pedra...
- É mesmo! Bem, então acho que Ele não pode fazer a pedra.
- Mas Ele pode fazer tudo!
- Ela balançou a cabeça:
- Eu estou toda confusa!
- Claro que está. Sabe, quando uma das premissas de um argumento contradiz a outra, não pode haver argumento.
Pedro consultou o relógio e disse que era melhor para por ali. Recomeçariam no dia seguinte.
- Hoje nosso primeiro sofisma é chamado de por misericórdia. Ouça: “Um homem se candidatou a um emprego. Quando o patrão perguntou sobre as suas qualificações, ele respondeu que tinha filhos, que a mulher era aleijada, as crianças não tinham o que comer, nenhuma roupa para vestir, nenhuma cama, nenhum cobertor e o inverno estava chegando”.
- Uma lágrima rolou pelo rosto de Vera.
- Oh, isso é horrível!
- Sim, é horrível – concordou Pedro – mas não é argumento. O homem apelou para a misericórdia e a piedade do patrão. Usou o sofisma por misericórdia. Entendeu?
- Você tem um lenço? Choramingou ela.
- Agora vamos discutir falsa analogia. Por exemplo: “Deveria ser permitido aos estudantes consultar livros durante as provas. Afinal de contas, cirurgiões têm raio X para guia-los durante as operações; engenheiros usam plantas quando vão construir prédios.”
- Puxa, essa é a idéia mais genial que ouvi nos últimos anos!
- Vera, o argumento está errado. Médicos e engenheiros não estão fazendo provas para saber quanto aprenderam, mas os estudantes estão. As situações são completamente diferentes, e por isso o argumento não tem valor.
- Eu ainda acho que é uma boa idéia.
- Quer conhecer um sofisma hipótese contrária ao fato?
- Isso soa delicioso!
- Escute: “Se madame Curie não tivesse deixado uma chapa fotográfica numa gaveta com um pedaço de uramita, o mundo hoje não conheceria nada sobre o rádio.”
- Claro! Você viu o que a televisão disse sobre isso? Foi incrível!
Pedro, já sem esperança de Vera pudesse pensar logicamente, resolveu dar-lhe a última chance:
- O próximo sofisma chama-se envenenando o poço – disse, com ar de frustrado.
- Que engraçadinho!
- “Dois homens estão prestes a iniciar um debate. O primeiro levanta-se e diz: «meu adversário é um grande mentiroso. Não se pode acreditar no que ele diz»...” agora pense, pelo amor de Deus. Pense firmemente. O que está errado?
- Não é justo. Quem vai acreditar no segundo homem se o primeiro o chama de mentiroso antes mesmo que ele comece a falar?
- Certo – gritou Pedro,vibrando de alegria. – 100% certo! Não é justo. O primeiro homem “envenenou o poço” antes que alguém pudesse beber a água! Vera, estou orgulhoso de você!
- Oh, obrigada!
- Agora, vejamos o petição de princípio. Por exemplo: “Cigarro prejudica a saúde porque faz mal ao organismo”.
- É claro que a afirmativa é infantil. É como se dissesse: “prejudica porque prejudica”. Não explica nada.
- Vera, você é um gênio. Esse sofisma toma como verdade demonstrada justamente aquilo que está em discussão. Veja, minha querida, as coisas não são tão difíceis. Tudo o que deve fazer é se concentrar, pensar, examinar, avaliar. Bem vamos rever tudo o que aprendemos.
- Está bem.
Cinco dias depois, Vera sabia tudo sobre lógica. Pedro estava orgulhoso, pois ele, e só ele, ensinara-a a pensar corretamente. Agora sim, ela era digna de seu amor.
Assim, ele decidiu revelar seus sentimentos.
- Vera, hoje não vamos mais conversar sobre sofismas.
- Oh, que pena!
- Minha querida, nós já passamos cinco dias juntos. Está claro que estamos bem entrosados.
- “Generalização apressada” – ela disse.
- Oh, desculpe!
- Generalização apressada – repetiu ela. – como você pode dizer que estamos bem entrosados baseado em apenas cinco encontros?
- Minha querida – falou Pedro, acariciando-lhe as mãos. – cinco encontros são suficientes. Afinal de contas, você não precisa comer todo o bolo para saber se ele é bom.
- “Falsa analogia” – disparou ela. – Não sou bolo, sou uma moça.
Aí, Pedro resolveu mudar de tática.
- Vera, eu te amo. Você é o mundo para mim. Por favor, meu amor, diga que vai me namorar firme. Porque, do contrário, minha vida não terá sentido. Eu definharei. Vou me recusar a comer.
- “Por misericórdia” – ela acusou.
- Bem, Vera – disse Pedro, forçando um sorriso –, você aprendeu mesmo os sofismas.
- É, aprendi.
- E quem os ensinou?
- Você.
- Está certo. Então, você me deve alguma coisa, não deve? Se eu não a procurasse, você nunca teria aprendido nada sobre sofismas.
- “Hipótese contraria ao fato”.
- Vera, você não deve tomar tudo ao pé da letra! Sabe que as coisas que aprendeu na escola não têm nada a ver com a vida.
- “Generalização não-qualificada”.
- Pedro perdeu a paciência.
- Escute, você vai ou não vai ser minha namorada?
- Não vou.
- Por que não?
- Porque esta manhã prometi a João que seria a namorada dele.
- Aquele rato – gritou Pedro, chutando as flores do jardim. – Você não pode namorar esse cara, Vera. É um mentiroso. Um chato. Um rato!
- “Envenenando o poço” – disse Vera. – e pare de gritar. Acho que gritar também é um sofisma.
- Com um tremendo esforço, Pedro baixou a voz, controlou-se e disse:
- Está bem. Vamos analisar esse caso logicamente. Como você poderia escolher o João? Olhe pra mim: um aluno brilhante, um tremendo intelectual, bonito, um cara com o futuro garantido. Olhe para o João: um cara-de-pau, vazio, um vagabundo. Pode me dar uma razão lógica para ficar com ele’
- Claro que posso. Ele tem uma moto – respondeu Vera, correndo para montar na garupa da motocicleta de João.
Pedro, com profunda tristeza, gritou com raiva para que Vera pudesse ouvir:
- O amor é um sofisma porque amar é sofismar!
- “Petição de principio” – berrou Vera, agarrada à cintura de João, na moto que arrancava velozmente.

Texto adaptado do original de Max Shulman. “O amor é uma falácia”, in As calcinhas cor de rosa do capitão e outros contos humorísticos, p. 62-90

PORQUE O SAPO NÃO LAVA O PÉ?

Olavo de Carvalho: O sapo não lava o pé. Não lava porque não quer. Ele
mora lá na lagoa, não lava o pé porque não quer e ainda culpa o
sistema, quando a culpa é da PREGUIÇA. Este tipo de atitude é que
infesta o Brasil e o Mundo, um tipo de atitude oriundo de uma complexa
conspiração moscovita contra a livre-iniciativa e os valores humanos
da educação e da higiene!

Karl Marx: A lavagem do pé, enquanto atividade vital do anfíbio,
encontra-se profundamente alterada no panorama capitalista. O sapo,
obviamente um proletário, tendo que vender sua força de trabalho para
um sistema de produção baseado na detenção da propriedade privada
pelas classes dominantes, gasta em atividade produtiva alienada o
tempo que deveria ter para si próprio. Em conseqüência, a miséria
domina os campos, e o sapo não tem acesso à própria lagoa, que em
tempos imemoriais fazia parte do sistema comum de produção.

Friedrich Engels: isso mesmo.

Michael Foucault: Em primeiro lugar, creio que deveríamos começar a
análise do poder a partir de suas extremidades menos visíveis, a
partir dos discursos médicos de saúde, por exemplo. Por que deveria o
sapo lavar o pé? Se analisarmos os hábitos higiênicos e sanitários da
Europa no século XII, veremos que os sapos possuíam uma menor
preocupação em relação à higiene do pé – bem como de outras áreas do
corpo. Somente com a preocupação burguesa em relação às disciplinas –
domesticação do corpo do indivíduo, sem a qual o sistema capitalista
jamais seria possível – é que surge a preocupação com a lavagem do pé.
Portanto, temos o discurso da lavagem do pé como sinal sintomático da
sociedade disciplinar.

Max Weber: A conduta do sapo só poderá ser compreendida em termos de
ação social racional orientada por valores. A crescente racionalização
e o desencantamento do mundo provocaram, no pensamento ocidental, uma
preocupação excessiva na orientação racional com relação a fins. Eis
que, portanto, parece absurdo à maior parte das pessoas o sapo não
lavar o pé. Entretanto, é fundamental que seja compreendido que, se o
sapo não lava o pé, é porque tal atitude encontra-se perfeitamente
coerente com seu sistema valorativo – a vida na lagoa.

Friedrich Nietzsche: Um espírito astucioso e camuflado, um gosto
anfíbio pela dissimulação - herança de povos mediterrâneos, certamente
- uma incisividade de espírito ainda não encontrada nas mais ermas
redondezas de quaisquer lagoas do mundo dito civilizado. Um animal
que, livrando-se de qualquer metafísica, e que, aprimorando seu
instinto de realidade, com a dolcezza audaciosa já perdida pelo
europeu moderno, nega o ato supremo, o ato cuja negação configura a
mais nítida – e difícil – fronteira entre o Sapo e aquele que está por
vir, o Além- do-Sapo: a lavagem do pé.

John Locke: Em primeiro lugar, faz-se mister refutar a tese de Filmer
sobre a lavagem bíblica dos pés. Se fosse assim, eu próprio seria
obrigado a lavar meus pés na lagoa, o que, sustento, não é o caso.
Cada súdito contrata com o Soberano para proteger sua propriedade, e
entendo contido nesse ideal o conceito de liberdade. Se o sapo não
quer lavar o pé, o Soberano não pode obrigá-lo, tampouco recriminá-lo
pelo chulé. E ainda afirmo: caso o Soberano queira, incorrendo em
erro, obrigá-lo, o sapo possuirá legítimo direito de resistência
contra esta reconhecida injustiça e opressãO.

Immanuel Kant: O sapo age moralmente, pois, ao deixar de lavar seu pé,
nada faz além de agir segundo sua lei moral universal apriorística,
que prescreve atitudes consoantes com o que o sujeito cognoscente
possa querer que se torne uma ação universal.

Nota de Freud: Kant jamais lavou seus pés.

Sigmund Freud: Um superego exacerbado pode ser a causa da falta de
higiene do sapo. Quando analisava o caso de Dora, há vinte anos, pude
perceber alguns dos traços deste problema. De fato, em meus numerosos
estudos posteriores, pude constatar que a aversão pela limpeza, do
mesmo modo que a obsessão por ela, podem constituir-se num desejo de
autopunição. A causa disso encontra-se, sem dúvida, na construção do
superego a partir das figuras perdidas dos pais, que antes
representavam a fonte de todo conteúdo moral do girino.

Carl Jung: O mito do sapo do deserto, presente no imaginário semita,
vem a calhar para a compreensão do fenômeno. O inconsciente coletivo
do sapo, em outras épocas desenvolvido, guardou em sua composição mais
íntima a idéia da seca, da privação, da necessidade. Por isso, mesmo
quando colocado frente a uma lagoa, em época de abundância, o sapo não
lava o pé.

Soren Kierkegaard: O sapo lavando o pé ou não, o que importa é a existência.

George Hegel: podemos observar na lavagem do pé a manifestação da
Dialética. Observando a História, constatamos uma evolução gradativa
da ignorância absoluta do sapo – em relação à higiene – para uma
preocupação maior em relação a esta. Ao longo da evolução do Espírito
da História, vemos os sapos se aproximando cada vez mais das lagoas,
cada vez mais comprando esponjas e sabões. O que falta agora é, tão
somente, lavar o pé, coisa que, quando concluída, representará o fim
da História e o ápice do progresso.

Auguste Comte: O sapo deve lavar o pé, posto que a higiene é
imprescindível. A lavagem do pé deve ser submetida a procedimentos
científicos universal e atemporalmente válidos. Só assim poder-se-á
obter um conhecimento verdadeiro a respeito.

Arthur Schopenhauer: O sapo cujo pé vejo lavar é nada mais que uma
representação, um fenômeno, oriundo da ilusão fundamental que é o meu
princípio de razão, parte componente do principio individuationis, a
que a sabedoria vedanta chamou "véu de Maya". A Vontade, que o velho e
grande filósofo de Königsberg chamou de Coisa-em si, e que Platão
localizava no mundo das idéias, essa força cega que está por trás de
qualquer fenômeno, jamais poderá ser capturada por nós, seres
individuados, através do princípio da razão, conforme já demonstrado
por mim em uma série de trabalhos, entre os quais o que considero o
maior livro de filosofia já escrito no passado, no presente e no
futuro: "O mundo como vontade e representação".

Aristóteles. O [sapo] lava de acordo com sua natureza! Se imitasse,
estaria fazendo arte . Como [a arte] é digna somente do homem, é
forçoso reconhecer que o sapo lava segundo sua natureza de sapo,
passando da potência ao ato. O sapo que não lava o pé é o ser que não
consegue realizar [essa] transição da potência ao ato.


Platão:

Górgias: Por Zeus, Sócrates, os sapos não lavam os seus pés porque não
gostam da água!
Sócrates: Pensemos um pouco, ó Górgias. Tu assumiste, quando há pouco
dialogava com Filebo, que o sapo é um ser vivo, correto?
Górgias: Sou forçado a admitir que sim.
Sócrates: Pois bem, e se o sapo é um ser vivo, deve forçosamente fazer
parte de uma categoria determinada de seres vivos, posto que estes
dividem-se em categorias segundo seu modo de vida e sua forma
corporal; os cavalos são diferentes das hidras e estas dos falcões, e
assim por diante, correto?
Górgias: Sim, tu estás novamente correto.
Sócrates: A característica dos sapos é a de ser habitante da água e da
terra, pois é isso que os antigos queriam dizer quando afirmaram que
este animal era anfíbio, como, aliás, Homero e Hesíodo já nos atestam.
Tu pensas que seria possível um sapo viver somente no deserto, tendo
ele necessidade de duas vidas por natureza,ó Górgias?
Górgias: Jamais ouvi qualquer notícia a respeito.
Sócrates: Pois isto se dá porque os sapos vivem nas lagoas, nos lagos
e nas poças, vistos que são animais, pertencem e uma categoria, e esta
categoria é dada segundo a característica dos sapos serem anfíbios.
Górgias: É verdade.
Sócrates: precisando da lagoa, ó Górgias meu caro, tu achas que seria
o sapo insano o suficiente para não gostar de água?
Górgias: não, não, não, mil vezes não, Ó Sócrates!
Sócrates: Então somos forçados a concluir que o sapo não lava o pé por
outro motivo, que não a repulsa à água
Górgias: de acordo

Diógenes, o Cínico: Dane-se o sapo, eu só quero tomar meu sol.

Parmênides de Eléia: Como poderia o sapo lavar os pés, ó deuses, se o
movimento não existe?

Heráclito de Éfeso: Quando o sapo lava o pé, nem ele nem o pé são mais
os mesmos, pois ambos se modificam na lavagem, devido à impermanência
das coisas.

Epicuro: O sapo deve alcançar o prazer, que é o Bem supremo, mas sem
excessos. Que lave ou não o pé, decida-se de acordo com a
circunstância. O vital é que mantenha a serenidade de espírito e fuja
da dor.

Estóicos: O sapo deve lavar seu pé de acordo com as estações do ano.
No inverno, mantenha-o sujo, que é de acordo com a natureza. No verão,
lave-o delicadamente à beira das fontes, mas sem exageros. E que pare
de comer tantas moscas, a comida só serve para o sustento do corpo.

Descartes: nada distingo na lavagem do pé senão figura, movimento e
extensão. O sapo é nada mais que um autômato, um mecanismo. Deve lavar
seus pés para promover a autoconservação, como um relógio precisa de
corda.

Nicolau Maquiavel: A lavagem do pé deve ser exigida sem rigor
excessivo, o que poderia causar ódio ao Príncipe, mas com força tal
que traga a este o respeito e o temor dos súditos. Luís da França, ao
imperar na Itália, atraído pela ambição dos venezianos, mal agiu ao
exigir que os sapos da Lombardia tivessem os pés cortados e os lagos
tomados caso não aquiescessem à sua vontade. Como se vê, pagou
integralmente o preço de tal crueldade, pois os sapos esquecem mais
facilmente um pai assassinado que um pé cortado e uma lagoa
confiscada.

Jacques Rousseau: Os sapos nascem livres, mas em toda parte coaxam
agrilhoados; são presos, é certo, pela própria ganância dos seus
semelhantes, que impedem uns aos outros de lavarem os pés à beira da
lagoa. Somente com a alienação de cada qual de seu ramo ou touceira de
capim, e mesmo de sua própria pessoa, poder-se-á firmar um contrato
justo, no qual a liberdade do estado de natureza é substituída pela
liberdade civil.

Max Horkheimer e Theoror Adorno: A cultura popular diferencia-se da
cultura de massas, filha bastarda da indústria cultural. Para a
primeira, a lavagem do pé é algo ritual e sazonal, inerente ao
grupamento societário; para a segunda, a ação impetuosa da razão
instrumental, em sua irracionalidade galopante, transforma em
mercadoria e modismo a lavagem do pé, exterminando antigas tradições e
obrigando os sapos a um procedimento diário de higienização.

Antonio Gramsci: O sapo, e além dele, todos os sapos, só poderão lavar
seus pés a partir do momento em que, devido à ação dos intelectuais
orgânicos, uma consciência coletiva principiar a se desenvolver
gradativamente na classe batráquia. Consciência de sua importância e
função social no modo de produção da vida. Com a guerra de posições -
representada pela progressiva formação, através do aparato ideológico
da sociedade civil, de consensos favoráveis – serão criadas
possibilidades para uma nova hegemonia, dessa vez sob a direção das
classes anteriormente subordinadas.

Norberto Bobbio: existem três tipos de teoria sobre o sapo não lavar o
pé. O primeiro tipo aceita a não-lavagem do pé como natural, nada
existindo a reprovar nesse ato. O segundo tipo acredita que ela seja
moral ou axiologicamente errada. A terceira espécie limita-se a
descrever o fenômeno, procurando uma certa neutralidade.

Liberal de Orkut (esse indivíduo cada vez mais anônimo): o sapo não
lava o pé por ser um indivíduo liberto da opressão estatal. Mas
qualquer coisa é só arrumar um emprego público
e utilizar o lavado do Leviatã!